Perturbação bipolar

A perturbação ou doença bipolar não é uma doença rara. Estima-se que possa ocorrer em uma em cada 100 pessoas. Dados recentes na população portuguesa estimam a sua prevalência em 2.6%.

A característica principal da perturbação bipolar é a alternância frequente entre períodos de depressão e de euforia (mania/hipomania). Tratam-se de estados anormais de humor e que forçosamente perduram por semanas ou meses.

Ao contrário do que muitos julgam, a característica principal desta doença é a depressão. Doentes bipolares passam grande parte da sua vida deprimidos. Os tratamentos habituais muitas vezes não resultam ou têm consequências inesperadas resultando até, por vezes, num agravamento da doença. O facto de se apresentarem muitas vezes com queixas de tristeza, falta de capacidade de sentir prazer, baixa autoestima, insónia, alterações do apetite ou pensamentos de suicídio leva que o diagnóstico seja incorreto ou realizado tardiamente; a confusão com outros tipos de depressão é frequente, embora alguns sintomas as possam diferenciar.

Um aspeto fundamental da doença é o surgimento de períodos mania ou hipomania. O termo mania reserva-se para casos mais graves, que habitualmente obrigam a internamento hospitalar, enquanto hipomania remete para alterações semelhantes, mas mais ligeiras do humor.

É fundamental ter em linha de conta a personalidade ou comportamento habitual da pessoa. Só se consideram critérios de mania ou hipomania aqueles que configuram uma alteração relevante do doente em relação ao seu funcionamento habitual.

São sintomas de mania/hipomania:

· Euforia – pessoas sentem-se mais empolgadas, com uma alegria que tente a ser desproporcional ou inapropriada para a situação que vivem

· Diminuição do número de horas de sono – apesar de dormirem pouco tempo, tendem a não sentir cansaço

· Aumento de energia/Aumento da actividade – energia excessiva, maior volume de trabalho ou envolvimento em mais actividades sociais/lazer

· Consumo de substâncias – utilização em maior frequência ou quantidade de álcool ou outras drogas

· Distractibilidade – dificuldade em manter o foco numa tarefa, muitas vezes transitando entre tarefas sem as concluir.

· Sensação de pensamento acelerado – impressão desagradável de ter os pensamentos rápidos, como que se “acotovelassem” uns aos outros

· Muito mais falador que o habitual – tendência a dizer piadas, falar a um ritmo mais rápido, fazer comentários inapropriados

· Aumento da líbido – elevação do desejo e frequência de comportamento sexuais que podem, por vezes ser inadequados

· Gastos excessivos – maior impulsividade a fazer compras; em situações graves de descontrolo podem levar os doentes a contrair dívidas

· Sintomas psicóticos – ocorrem apenas nos casos mais graves de mania. Há uma perda de contacto com a realidade. Doentes podem ouvir “vozes” ou ter ideias falsas ou impossíveis, julgando ter “poderes especiais”, dotados de capacidades incríveis ou sobrenaturais.

O surgimento destes sintomas, regra geral, torna o diagnóstico de perturbação bipolar definitivo. Sobretudo, se houver antecedentes de depressão ou familiares próximos com da mesma doença.

A importância de um diagnóstico atempado prende-se sobretudo com a introdução de um tratamento apropriado.

Não nada raro doentes bipolares serem erradamente diagnosticados levando ao cumprimento de tratamentos ineficazes e que não permitem uma prevenção adequada das crises.