Os antidepressivos causam dependência?

Os antidepressivos causam dependência?

Uma das perguntas que me fazem mais frequentemente na consulta é se os antidepressivos causam dependência.

Os medicamentos conhecidos como antidepressivos são usados com grande frequência em psiquiatria. Esta categoria de substâncias engloba um grande número de medicamentos que têm em comum o seu efeito contra a depressão. São utilizados para tratar um grande número de perturbações – não só as depressivas, mas também perturbações de ansiedade, pânico e perturbação obsessivo-compulsiva. Estão distribuídos por várias classes e têm perfis de efeitos terapêuticos e secundários distintos, dando ao psiquiatra várias opções consoante a situação de cada doente.

Quando me falam em dependência ou vício, normalmente referem-se à capacidade de ficarem bem sem medicação alguma ou se vão ter de tomar “para a vida toda”.

O conceito de dependência ou abuso remete para uma perda de controlo no uso de uma determinada substância, levando a uma utilização contínua ou crescente apesar das consequências negativas da sua utilização. O resultado do consumo excessivo, leva a problemas de saúde, familiares, profissionais, financeiros ou mesmo alterações no comportamento.

A dependência ocorre geralmente com substâncias cujo efeito é prazeroso é rápido imediato, como o álcool e as drogas ilícitas. Determinados medicamentos como os ansiolíticos (benzodiazepinas), utilizados muitas vezes para tratar a ansiedade e a depressão, podem também levar à dependência.

Muitas pessoas receiam tomar antidepressivos embora estejam já dependentes de benzodiazepinas (pode consultar exemplos nesta lista) há anos. Porque temem os antidepressivos quando cumprem já um tratamento inapropriado e viciante há anos é para mim um mistério. Assumo que tenha que ver amiúde com receito ou preconceito em relação aos efeitos dos antidepressivos.

Os antidepressivos, têm um efeito retardado e subtil, não proporcionando prazer ou alívio imediato. Geralmente, resultam numa recuperação gradual dos sintomas de ansiedade e depressão. São assim, pouco dados ao desenvolvimento de comportamentos de dependência ou abuso, apesar de existirem exceções. Além do mais, quando prescritos nas perturbações que acima enumerei, são muito mais eficazes que os ansiolíticos no controlo dos sintomas.

Contudo, há doentes cuja patologia é crónica ou com tendência a recaídas. Obviamente, estas pessoas terão de fazer vários ciclos de tratamento ou mesmo fazer terapêutica preventiva “para sempre”. Isso depende muito mais do problema de que padecem do que com as características dos antidepressivos.

Por isso não, os antidepressivos não causam dependência embora algumas pessoas efetivamente tenham de os tomar para a vida toda.