Perturbação obsessivo-compulsiva

A perturbação obsessivo-compulsiva é uma doença psiquiátrica muito frequente. Estima-se que possa afetar cerca de cinco em cada 100 pessoas em Portugal. Mais do dobro da prevalência descrita noutros países - à volta de 2%.

Caracteriza-se pela presença de obsessões e compulsões. O termo obsessão remete para pensamentos intrusivos que "teimam" em voltar à cabeça das pessoas contra a sua vontade, causando significativa ansiedade. Quando falamos de compulsões, referimo-nos a comportamentos repetitivos que visam atenuar a ansiedade causada pelas obsessões.

Este género de sintomas é comum, mesmo em pessoas saudáveis. Para ser considerada uma doença, estes têm de estar presentes por um período mínimo de tempo (pelo menos 1 hora), causar angústia significativa ou afetar outras áreas da vida da pessoa (trabalho, família, amigos).

Tipos de obsessão mais frequentes:

  • Contaminação - É o tipo de obsessão mais comum. Neste tipo de obsessão, há uma preocupação exagerada com germes, micróbios ou doenças por estes causados. As pessoas podem achar que as superfícies estão contaminadas ou que as mãos não estão bem limpas, por exemplo. De certo modo, há uma dúvida persistente quanto a questões de higiene.
  • Dúvida patológica - É um dos tipos de obsessão mais importante, e talvez o mais transversal.  Os doentes podem duvidar constantemente de si próprios. Por exemplo, têm dúvidas se fecharam o carro, se deixaram o ferro ligado, se introduziram corretamente o número nalgum formulário, etc. Sobrestimam a sua responsabilidade e riscos de eventuais negligências (causar acidentes, incêndios, falhas profissionais).
  • Necessidade de simetria - No caso deste género de obsessões, pode haver uma necessidade ter as coisas "sempre direitinhas", simétricas, alinhadas ou numa ordem predefinida.
  • Impulsos obsessivos - São como que pensamentos em que a pessoa se imagina a agir por impulso, realizando ações que considera inadmissíveis ou intoleráveis e que não controlam. Podem imaginar-se a ter comportamentos embaraçosos, sexuais ou violentos. A natureza destes pensamentos por vezes é tão abjeta para os próprios que leva a sentimentos de culpa.
  • Imagens obsessivas - Podem sentir-se atormentados por "imagens mentais" violentas, de acidentes, tragédias, sexuais, entre outras.
  • Sexuais - Abrangem uma variedade de pensamentos, imagens ou impulsos, conforme descrito acima. Muitas vezes são causadores de grande angústia e vergonha.
  • Pensamento mágico - Como que uma superstição em que há uma atribuição de responsabilidade por uma coisa não relacionada – se não se fizer uma coisa de uma determinada forma, algo de mal pode acontecer (um acidente, uma tragédia familiar, morte, etc.)

Tipos de compulsões mais frequentes:

  • Verificação - Muitas vezes, surgem como forma de atenuar a ansiedade causada pelas dúvidas. Os doentes são levados a intermináveis confirmações (portas, fechaduras, fogão, etc.).
  • Limpeza/lavagem - Surgem associadas a obsessões de contaminação ou preocupação excessiva com secreções (urina, fezes, saliva) ou outros tóxicos ambientais. Levam a comportamentos repetitivos como lavagem excessiva das mãos ou desinfeção exagerada das superfícies.
  • Contagem - Muitas vezes associado a várias obsessões e compulsões. Podem levar as pessoas a contar ou a repetir as suas ações ou objetos circundantes.
  • Acumulação – A dúvida sobre se um objeto poderá ter uma hipotética utilidade no futuro ou um valor sentimental inestimável pode levar as pessoas a acumular objetos de vários tipos. Podem até acumular coisas sem valor e que seriam consideradas “lixo” pelos demais.

Os doentes vivem frequentemente com a doença durante muito tempo e só pedem ajuda quando os sintomas se tornam incapacitantes ou quando surgem outras complicações como depressão, ataques de pânico ou abuso de substâncias.

O tratamento ideal é sempre uma combinação entre psicoterapia e medicamentos, embora ambos sejam eficazes por si só. É talvez das perturbações psiquiátricas que tem o tratamento mais bem definido, sendo que a esmagadora maioria dos doentes apresenta grandes melhorias.

Um diagnóstico e tratamento atempados melhoram o prognóstico e reduzem sofrimento que atualmente é totalmente desnecessário e evitável.

Diga Doutor
O médico de família, Dr. João Ramos quer ouvir as dúvidas dos portugueses! Diga Doutor é o seu programa de saúde semanal da RTP. Semanalmente, o programa Diga Doutor aborda diversos temas relacionados com saúde. O médico de família João Ramos convida especialistas e esclarece tudo sobre doenças, bon…